4.7.09

O meu irmão nasceu quando eu tinha seis anos e desde esse dia há catorze anos atrás sinto-me responsável por ele. Os meus pais diziam que tinha ciúmes, e que por isso, em vez de almoçar na escola obrigava-me a percorrer o caminho até casa para almoçar com eles. Na verdade era apenas por causa do meu irmão, para que hoje pudesse ficar com a memória das papas de iogurte, banana e bolacha que ele devorava.

Construíram mais um quarto em casa, e quando as paredes ainda eram só tijolo e cimento, nós roubámos um lençol à nossa mãe, pegámos em vassouras e caixotes e construímos uma tenda. Depois com dois rádios, fingíamos serem walkie-talkies para comunicarmos enquanto protegíamos o forte. E ele adormecia lá, e eu fingia que adormecia para o proteger do "inimigo".

Quando ele cresceu, dois, três anos, o meu avô ofereceu-lhe um daqueles carros de plástico, com uns pedais onde só os pezinhos dele cabiam, e um pequeno volante. Era vermelho. Eu tinha um triciclo, em ferro cor-de-rosa claro, com umas rodas de plástico branco, coisa de gente crescida, claro está. Ele andava sempre atrás de mim no carro dele, que não era tão veloz quanto o meu triciclo, ainda me lembro do esforço que ele fazia para me acompanhar nas longas maratonas em torno do quintal do nosso avô, das vezes que eu fingia ficar sem força para que ele me acompanhasse. Um dia lembrei-me de pegar nas cordas de saltar e juntar o carro dele ao meu triciclo. E passávamos tardes inteiras, horas de mãos cheias, a percorrer cada pedaço de cimento, a contornar as laranjeiras, sempre com ele atrás a dizer BRUUMM, BRUUMM. E os risos dele, e o olhar dele.

É a memória mais feliz da minha infância. Devia ser crime crescer sem avisar.

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L., às 15:11 

De joão a 15 de Julho de 2009 às 13:51
Tão bonito *.*

De L. a 15 de Julho de 2009 às 13:55
(:

De
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